Com o tema “Envelhecer LGBT+: Memória, Resistência e Futuro”, a Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo de 2025 propõe uma reflexão necessária e urgente: como está envelhecendo a população LGBT+ no Brasil? Quem cuida de quem cuidou de tantos? Onde estão as políticas públicas para essa geração que sobreviveu a tempos mais duros, ao preconceito institucionalizado e à marginalização?
Enquanto muitas campanhas falam sobre juventude, liberdade e festa, a velhice LGBT+ ainda é, na maioria das vezes, invisível. Para muitas pessoas da comunidade, envelhecer é sinônimo de solidão. Laços familiares rompidos, amores interrompidos por tragédias ou rejeições, e a dificuldade de construir vínculos afetivos duradouros marcam a trajetória de quem, por décadas, precisou esconder ou lutar para simplesmente existir.
A solidão que vem com o tempo
“Aos 70 anos, continuo buscando um amor, mas não sei mais se acredito nisso. O que tenho é a memória dos que se foram”, conta Luiz*, gay, aposentado, morador da zona oeste de São Paulo. A fala de Luiz escancara uma realidade comum entre pessoas LGBT+ idosas: a dificuldade de construir e manter relações amorosas duradouras, seja por medo, seja pela ausência de redes de apoio.
Boa parte dessa geração viveu sua juventude em um tempo onde ser LGBT+ era sinônimo de crime, doença ou pecado. Muitos perderam amigos e parceiros para a AIDS nos anos 80 e 90, enfrentaram abandono familiar e foram empurrados para à margem da sociedade. Hoje, muitos enfrentam o envelhecimento com poucos recursos e, em muitos casos, sem o suporte emocional ou financeiro de uma família.
Luta e resistência: uma geração que abriu caminhos
Apesar das dores, essa é também a geração que resistiu. Que saiu às ruas, ocupou espaços culturais, bateu de frente com a repressão e abriu portas para as conquistas de hoje. Foram essas pessoas que, muitas vezes de forma anônima, fundaram ONGs, criaram grupos de apoio, acolheram jovens expulsos de casa e ajudaram a formar a base da militância LGBT+ no Brasil.
“Quando comecei, falar sobre ser lésbica podia me custar o emprego. Fui demitida, fui ameaçada, perdi amigas. Mas continuei. Hoje, ver jovens livres é o que me dá esperança”, diz Marisa*, 67, ativista desde os anos 70.
Memória, futuro e visibilidade
O tema da Parada de 2025 propõe justamente esse olhar generoso e urgente para o passado e para o futuro. Valorizar a memória dessas pessoas não é apenas contar histórias — é reconhecer que muito do que temos hoje foi conquistado com suor, dor e coragem de quem não teve amparo, mas nunca deixou de lutar.
É também um chamado à ação: políticas públicas específicas para a população LGBTQIA+ idosa, programas de saúde mental e bem-estar, espaços de convivência e, principalmente, afeto e escuta.
Envelhecer não pode ser sentença de abandono. Para a comunidade LGBTQIA+, esse processo precisa ser, mais do que nunca, coletivo.
Comentários: