Por décadas, a comunidade LGBT+ tem lutado por visibilidade, direitos e dignidade. Mas há uma pauta urgente que, muitas vezes, é deixada de lado — o envelhecimento da população LGBT+. A escolha do tema da 29ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo — “Envelhecer LGBT+: Memória, Resistência e Futuro” — joga luz sobre uma realidade invisibilizada, mas que precisa ser discutida com seriedade e empatia.
A Solidão que Marca o Envelhecer LGBT+
O processo de envelhecer, por si só, já traz desafios para qualquer pessoa. Mas, para quem faz parte da comunidade LGBT+, esses desafios se multiplicam. Muitos chegam à terceira idade sem o suporte familiar, tendo sido rejeitados por seus próprios parentes em algum momento da vida, seja pela orientação sexual ou pela identidade de gênero.
A ausência de filhos, o afastamento da família e a falta de políticas públicas específicas acabam empurrando esses idosos para uma realidade marcada pela solidão, invisibilidade, abandono e até pobreza. Muitos vivem isolados, sem uma rede de apoio, dependendo de amigos que, muitas vezes, também estão envelhecendo, ou acabam em instituições que não estão preparadas para lidar com suas especificidades.
Por que os Jovens Não Estão Olhando para Isso?
É doloroso constatar que, dentro da própria comunidade, o envelhecer LGBT+ ainda é visto como um tabu. Existe uma cultura do culto à juventude, muito presente nos espaços LGBT+, especialmente nas redes sociais, nos ambientes de sociabilidade e até no mercado de consumo voltado para essa população.
Muitos jovens, ocupados em lutar por suas próprias causas — absolutamente legítimas — acabam não olhando para o futuro que os espera. Esquecem que, se hoje podem se expressar com mais liberdade, é graças às gerações que vieram antes, que enfrentaram a violência, a repressão e o preconceito em um país que, até pouco tempo, criminalizava a existência LGBT+ de forma velada e institucional.
Memória, Resistência e Futuro: Muito Além de um Tema, uma Luta Coletiva
Ao escolher “Envelhecer LGBT+: Memória, Resistência e Futuro” como tema, a 29ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo faz um chamado urgente à reflexão. É um convite para que a comunidade reconheça, valorize e cuide de quem abriu os caminhos, de quem esteve na linha de frente quando viver, simplesmente viver, já era um ato de resistência.
Falar sobre envelhecer LGBT+ é honrar as memórias daqueles que resistiram, daqueles que construíram os alicerces da liberdade que hoje desfrutamos, mas também é pensar em políticas públicas, moradias inclusivas, saúde especializada, redes de cuidado, e, principalmente, afeto, respeito e empatia.
O Futuro Também é Nosso, Se Cuidarmos Dele Hoje
O futuro de qualquer pessoa LGBT+ passa, inevitavelmente, pela construção de um envelhecimento digno. Ignorar essa pauta é correr o risco de reproduzir a mesma exclusão que sempre nos feriu.
É hora de transformar essa realidade, começando por olhar, ouvir e cuidar das nossas velhas e velhos LGBT+. Porque, no fim das contas, o futuro é um lugar onde todos nós também estaremos.
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